Margarida Rodrigues
O sítio de Monte Molião, localizado no litoral algarvio, tem sido alvo de extensos trabalhos arqueológicos desde 2006 no âmbito do projecto MOLA – Monte Molião na Antiguidade, estando bem documentada uma ocupação balizada entre a Idade do Ferro (século IV a.n.e) e o século II. Em época Alto Imperial, as importações cerâmicas são muito abundantes, destacando-se entre elas as de terra sigillata.
No sector C, área que em época Alto Imperial teria uma funcionalidade “industrial”, tendo sido identificados quatro fornos de produção cerâmica, foi recolhido e estudado um conjunto significativo de 1133 fragmentos (358 indivíduos) de terra sigillata com cronologias localizadas entre o início do século I e meados/finais do século II.
As produções do início do século I, em concreto as de origem itálica, são escassas, correspondendo apenas a 3,3% das importações de terra sigillata, não tendo também sido identificadas neste sector quaisquer estruturas ou estratos de ocupação de cronologia Júlio-Claudia. Estes materiais foram considerados residuais, uma vez que foram recolhidos em contextos mais tardios.
Durante o reinado de Tibério/Cláudio, iniciou-se a importação de terra sigillata do Sul da Gália (formas Drag. 24/25 e Ritt. 5, 8 e 9), que rapidamente superaram, em termos numéricos, as itálicas. Estas produções sud-gálicas (82,4%), particularmente as de La Graufesenque, atingiram o seu apogeu durante a dinastia flávia, quando ultrapassaram, em termos percentuais, os valores de outros grandes centros de consumo algarvios como Ossonoba e Balsa. As formas identificadas são perfeitamente consistentes com o panorama regional e apresentam uma diversidade formal muito considerável. Os pratos Drag. 18 e as taças Drag. 27 e Drag. 35/36 são dominantes, apesar do número dos pratos Drag. 15/17 e das taças Drag. 24/25 não ser despiciente. Outras formas, mais raras, como a Drag. 22 e 33 estão ainda presentes, devendo destacar-se o conjunto de vasos decorados das formas Drag. 29, 30, 37 e ainda Knorr 78.
As produções hispânicas são, comparativamente, muito escassas. As primeiras, de tipo Penãflor, são pouco representativas, ainda que a sua importação ocasional perdure durante a segunda metade do século I. As produções de Trício são muito raras em Monte Molião, sendo as Béticas (Andújar) as mais comuns. Entre estas observa-se uma muito diminuta diversidade formal, estando representadas as Drag. 15/17, 18, 24/25 e 27, bem como a alguns vasos decorados.
As produções africanas são também bastante raras, ao contrário do que acontece nos restantes centros de consumo algarvios. Apenas estão presentes produções de terra sigillata africana Clara A (e um único exemplar de T.S. Clara D), facto explicado pelo abandono do espaço em finais do século II.
Observa-se assim em Monte Molião uma clara preferência pela terra sigillata oriunda da Gália pelo menos até meados do século II, contrastando com a importação de outras categorias cerâmicas que são maioritariamente provenientes da Bética e do norte de África.