Íris Dias, Ana Margarida Arruda y Carlos Pereira
As várias e extensas campanhas de escavação desenvolvidas no sítio arqueológico de Monte Molião, desde 2006, permitiram reunir um vasto conjunto de artefactos. Deste, destaca-se a grande categoria de cerâmica comum de época romana, que ultrapassa os 13.000 exemplares inventariados, provenientes de contextos datados entre os séculos II a.C. e II d.C. Como é norma, esta categoria contempla um amplo número de formas e de produções que fizeram parte do quotidiano das comunidades que habitaram no Monte Molião. As produções da área meridional da península ibérica são as que se encontram mais bem representadas no conjunto, situação que se justifica pela proximidade do Algarve à região da Bética litoral, assim como pela fluidez que a via marítima permitia no que concerne à circulação de bens e produtos entre ambas regiões. Todavia, outras produções foram igualmente identificadas no sítio, nomeadamente: as do Sul da Gália; as do Norte de África; as da Península Itálica; ou ainda as de âmbito local/regional, estando igualmente bem representadas algumas de origem hispânica, que, elaboradas em regiões mais longínquas (é o caso da cerâmica cinzenta ampuritana), também se registam no aglomerado algarvio português.
Mais enigmático é, contudo, um conjunto de peças que corresponde a produções realizadas em ambientes redutores, assumindo pastas com características que frequentemente dificultam uma adscrição geográfica, resultando em tonalidades escuras que variam entre o cinzento-azulado e o cinzento-escuro que dificultam a identificação dos componentes petrográficos. Conquanto a divulgação destas produções não seja frequente, paulatinamente vamos conhecendo conjuntos de cerâmicas romanas de pastas redutoras a que se têm atribuído diversas origens hispânicas, não sendo improvável que muitos sejam fabricos locais/regionais. Ainda assim, algumas produções, que gozaram de maior divulgação, podem assumir características próprias dentro do grande grupo de cerâmicas de pastas redutoras, o que será determinado pelo estudo do conjunto de Monte Molião.
No conjunto das produções de pasta redutora abordado neste trabalho, apresenta-se a tradicional caracterização morfológica e funcional, mas destaca-se, sobretudo, a análise detalhada das pastas, recorrendo-se para tal à realização de análises laboratoriais. Com efeito, estabelecidos macroscopicamente os principais grupos de fabrico, foram obtidas amostras de cada um deles para que possamos determinar com detalhe a eventual origem destes recipientes. Como referimos, de momento mantem-se alguma incerteza sobre a possibilidade de algumas de estas pastas terem uma origem exógena, da mesma forma que outras podem corresponder a produções locais/regionais. As análises realizadas (petrográficas; de difracção de raios-X; de espectrometria de massa) trazem um contributo relevante no conhecimento acerca da origem de recipientes que parecem estar limitados a formas muito concretas (caçoilas; tigelas; potes/panelas e respectivas tampas). Com efeito, as características morfológicas registadas nesta amostra não se estendem ao repertório formal das produções concretizadas no sítio. As formas que foram produzidas no próprio local, nos fornos que produziram recipientes de pastas oxidantes, estes perfis não estão identificados, situação que consente, pelo menos, a possibilidade de que estejamos perante recipientes importados.