Ana Martins, Paul Naumann, Florian Hermann, João Pedro Bernardes y Felix Teichner
Localizada do Algarve (Sul de Portugal), a Boca do Rio é uma pequena praia situada entre as praias do Burgau e da Salema. Em época romana o mar entrava pelo estuário do rio de Budens, que ali desagua, formando uma extensa laguna. Nas margens desta laguna os Romanos fundaram, em cerca de meados do século I d.C., um sítio portuário que possuía uma grande casa com a sua frente e as termas voltadas ao mar, de que ainda hoje se veem muitos vestígios na praia e que o mar tem vindo a destruir. Por trás desta rica área residencial construiu-se uma área industrial, com grandes cetárias para a transformação de molhos e salgas de peixe, servida por um porto.
No século XVI, a praia da Boca do Rio volta a ser ocupada por uma comunidade de pescadores. Anos depois, no século XVIII temos as primeiras descrições relativas às ruínas, que foram feitas como resultado de fortes tempestades (1715) e do tsunami de 1755. E, em 1774, as fundações de alguns dos edifícios romanos correspondentes à área termal são aproveitadas para construir, de novo, uma armação de pesca de que restam ainda no local dois edifícios em ruínas.
As investigações levadas a cabo neste sítio romano desde 2017, numa parceria entre a Universidade do Algarve e a Universidade de Marburg, têm permitido conhecer muito melhor o sítio, nomeadamente a domus e a área termal da frente marítima, bem como a área industrial que se estendia nas suas traseiras.
O projeto intitulado “Boca do Rio: um sítio pesqueiro entre dois mares” teve o intuito de investigar a frente marinha e o reaproveitamento que as armações de pesca, implantadas sucessivamente no local nos séculos XVI e XVIII, fizeram das estruturas romanas; assim como de se debruçar ainda sobre a parte industrial do sítio romano, procurando entender a articulação desta área com a opulenta residência na frente marítima e todo o conjunto com o mar e a laguna.
Conjugando as estruturas e contextos exumados com os materiais datáveis, nomeadamente a terra sigillata, já é hoje possível ter uma ideia muito plausível de como o sítio terá evoluído. Apresenta-se aqui o estudo dessas cerâmicas finas recolhidas aquando destas intervenções e que constituem um dos indicadores mais fidedignos para a evolução cronológica deste sítio romano, reservando-se para mais tarde um estudo mais amplo, que trará uma visão global e aprofundada sobre os resultados obtidos no decorrer do projeto.
Com base neste estudo, a datação proposta para o início da ocupação romana no sítio da Boca do Rio é reafirmada. Como mostram estas peças datáveis, a presença romana do local tem início na primeira metade do século I d. C. e termina no final do século V d. C. Além disso, através deste trabalho, foi possível identificar três picos de importações: O primeiro, caracterizado por uma quantidade relativamente pequena de terra sigillata sudgálica e hispânica, juntamente com algumas das primeiras produções de TSA A; o segundo, composta por uma maior quantidade de formas de TSA C; e o terceiro, e último, que apresenta um maior NMI, sendo as formas em TSA D e TSA C tardia as mais comuns e as em sigillata Luzente e DSP as mais raras.